Estamira e a Loucura


  

Cena do filme Estamira
    Estamira é um documentário dirigido por Marcos Prado que se passa no aterro sanitário do Jardim Gramacho (no mesmo local que a Carminha tramava contra Nina, ou Rita). Ele é focado em uma personagem homônima, uma senhora que viveu por 22 anos no lixão e é diagnosticada com distúrbios mentais. Nos seus discursos messiânicos, evidencia a falência moral da sociedade e do modelo de modernidade,


A personagem-título é catadora de lixo e sobrevive do trabalho no aterro sanitário, e que detém em seu interior a sua própria verdade. Ao despir-se da razão ocidental e dos valores cristãos, Estamira encontrou-se num mundo de caos, como este realmente é, e deu-se conta da realidade brutal que cerca quem vive a pobreza urbana da sociedade brasileira. Ao louco não é permitido a verdade, apenas a razão pode possuí-la.


Assim sendo, aos olhos da sociedade ela tornou-se louca, cujo o conhecimento é tido como ausente de razão mas que traz denúncias sociais. Nesse contexto, é válido o questionamento: as suas reflexões podem facilmente ser atribuídas a pensadores marxistas, tendo fundamentos e premissas semelhantes, todavia o discurso da catadora de lixo é alocado na categoria da loucura.


Foucault e a história da loucura


Ao observar as condições em que Estamira vive e como esta se posiciona no mundo como indivíduo, pode-se traçar paralelos com a abordagem feita por Michel Foucault a respeito da Loucura. 


Estamira detém a sua própria verdade e necessita expô-la, porém segundo o que Foucault traz a respeito da psicologia, esta verdade é considerada como oculta ao louco e "necessita" ser mostrada a este pelo psicólogo. 

O conto O Alienista, de Machado de Assis lança 
um convite à reflexão sobre a loucura. Quem é
insano: eu ou o outro? 
Foto: Getty Images/Lucas S. Paiva/Guia do Estudante


Estamira, além de ser tida como louca, está inserida num contexto de miséria. A miséria ocupou diferentes posições dentro da história, passando o pobre de excluído da vida social até a sua aceitação por contribuir de alguma forma para a vida econômica. Porém ao louco destinou-se a internação, a cura e a tentativa de diálogos a fim de tentar libertá-los de suas insanidades, pois estas perturbam a ordem social e é necessário trazê-las para a normalidade.


A partir da abordagem feita por Foucault sobre a Loucura, entende-se que esta não é um fator de ordem biológica, mas sim cultural, sendo a concepção sobre esta alterada conforme a visão de cada época.


 

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